A casa das flores brancas

Parte I – A vida em Buford

A primavera havia chegado, as floreiras das janelas, ao redor do muro e no jardim floresciam como sempre. Era uma única espécie de flor, os narcisos brancos, mais raros que os amarelos e por isso destacavam a residência dos Mc Bolton. Como é popular no reino unido, as casas são conhecidas e reconhecidas pelos seus nomes ao invés dos números da rua. Essa não era diferente, por ser peculiar, chamava “casa das flores brancas”. Embora populares na Inglaterra os daffodils, narcisos, mais conhecidos e abundantes são os amarelos mas, os brancos dão mais destaque. Não há quem não conheça a casa das flores brancas em Cotswolds maravilhoso distrito da cidade de Buford em Oxfordshire.

Amelia e Jeremy Mc Bolton eram casados há décadas. Ambos, de origem escocesa mas, suas famílias já viviam no interior da Inglaterra há mais de 2 séculos. A casa das flores brancas pertencia a família de Amelia.

Jeremy trabalhou a vida toda no exército, até se aposentar, como armeiro, e Amelia era a típica dona de casa que acordava cedo, preparava o english breakfast e mais tarde cuidava da limpeza da casa, do almoço, das roupas, e do jantar. Era muito dedicada e amorosa. Jeremy por sua vez era mais seco porém era extremamente cuidadoso com sua mulher. Sempre atencioso e prestativo para auxiliá-la no que fosse necessário.

Amelia tinha como paixão, cuidar dos jardins e das floreiras. Durante o outono e inverno, rigorosos, diga-se de passagem, preparava e cuidava do solo e das sementes para que na primavera suas flores bancas florescessem, fazendo jus ao nome da casa.

Tudo era calmo, a velocidade com que a vida passava era a mesma das carroças que passavam em frente à casa. Uma vida comum, por vezes ordinária e deslocada do tempo em pleno século XXI. Uma vida para poucos.

Jeremy lia o jornal todas as manhãs ou se atualizava pelo noticiário ouvindo a BBC é claro. Ver TV era raro e quando a viam, era a BBC, a voz oficial do país, exceto pelo football que o prendia por horas em frente a televisão. Não importava o time, ele via todos os jogos que era possível.

Acordavam cedo, com o raiar do sol e dormiam cedo exceto quando havia jogo e Jeremy só ia dormir ao final. Jeremy e Amelia dobravam as roupas, e faziam a massa do pão para ser assado pela manhã, antes de dormir.

As noites eram frias mas, a lareira na sala e no quarto os aquecia os cômodos da casa o suficiente para os dias confortáveis e as noites tranquilas, todas as noites, ou quase todas as noites.

Em uma dessas noites mais exatamente em uma quarta-feira, Jeremy acordou com o som de tiros. Espantado e ainda sonolento, abriu a gaveta do criado-mudo e sacou sua pistola, uma 9mm, sua preferida. Ele como armeiro sabia o que era bom.

Levantou-se da cama, sem acordar Amelia que dormia em sono profundo e foi até a janela do quarto que dava vista para os fundos do terreno. Pela fresta da janela pode ouvir os sons. Não podia precisar a distância ou a direção mas, vinham do bosque atrás de sua casa.

Não iria sair de dentro mas, defenderia sua casa de qualquer pretenso invasor.

Então, fez-se silencio novamente. Nenhum outro tiro foi disparado. Jeremy, então olhou para o seu relógio que marcada 1:25 da manhã.

Continuou olhando pela fresta da janela por alguns minutos e então voltou para a cama, adormecendo com um olho, como se costuma dizer.

Como fazia todos os dias, Amelia acordou por volta das 5:30 e silenciosamente saiu da cama para não acordar Jeremy quando de repente sentiu uma mão segurar firmemente seu braço. Ela deu um grito surdo.

– Por Deus Amelia. Sou eu seu marido. Por que se assustou?

– Jer, era assim que Amelia costumava chamar seu marido, Por que me segurou?

– Não saia desse quarto enquanto eu não der uma boa espiada na casa.

– O que está acontecendo, disse ela?

– Você não ouviu os tiros nessa madrugada, né?

– Como? Berrou ela. Que tiros, Jer?

– Xiiii! Fale baixo. Eu vou dar uma inspecionada na casa e depois falamos.

Ela apenas arregalou os olhos e espantada que estava, ficou ali paralisada.

Jeremy pegou sua pistola e saiu do quarto. Foi inspecionar a casa para ver se houve algum arrombamento ou o pior, um roubo.

Feita a ronda e nada constatado, retornou ao quarto para liberar sua mulher.

Ambos foram para a cozinha e enquanto preparavam o desjejum, Jeremy contou o que vivenciou na madrugada.

Atônita e preocupada, ela ordenou ao seu marido que telefonasse para a polícia para informar sobre o ocorrido.

Assim Jeremy fez e cerca de uma hora depois uma viatura já estava na porta da casa deles.

Em uma cidadezinha onde pouco ou nada acontecesse, o que ocorrera nessa madrugada era um evento e tanto.

O Inspetor Jason Stirleman cumprimentou Jeremy e Amelia com intimidade, afinal nessa pequena cidade todos se conheciam.

– Bem Jeremy, disse o Inspetor. Você escutou tiros nessa madrugada, certo?

– Sim escutei.

– Lembra-se de quantos?

– Depois que acordei escutei dois e após 2 ou três minutos, mais 3.

– De onde vinham os tiros?

– De algum lugar atrás da minha propriedade!

– Chegou a ver alguém ou algum vulto?

– Nada, exceto os lampejos dos tiros através das frestas da veneziana do quarto.

– E você Amelia, o que viu ou ouviu?

– Nada Jason, absolutamente nada. Dormia como um bebê.

– Você tem sono profundo?

– Eu não tinha mas, de uns tempos para cá, eu caio na cama e só acordo pela manhã. Já não sou mais a mesma, a idade vai chegando e sabe como é, tudo muda.

– Eu sei muito bem, Amelia. Minha mulher comenta comigo que já estou velho para esse trabalho, que é hora de me aposentar mas, gosto do que faço. Além disso, como nada acontece nessa cidade, o trabalho policial é quase um “dolce far niente” como dizem os italianos.

– Jason, você recebeu algum chamado dos nossos vizinhos? Perguntou Amelia.

– Sim Amelia, recebi sim. Como aqui as casas são distantes umas das outras recebi uma ligação dos Stanton que dizem ter ouvido estampidos longe mas, não souberam informar a direção de onde vieram. Pelo que parece, realmente foi bem mais perto daqui.

– Podem ser caçadores, Jason. Comentou Jeremy.

– Pelas suas informações, os tiros foram de pistola e caçadores usam espingarda.

– Exceto se forem pessoas caminhando e no trajeto forem atacados por algum animal.

– Mas, Jeremy, quem andaria a noite por aqui? O que estaria ou estariam fazendo nessa localidade? Aqui há o bosque e mais além, atrás dele, o rio Windrush que só é visitado durante o dia.

– Assalto, arruaça, alguns bêbados, sei lá Jason, você conhece os jovens de hoje em dia.

– Eu vou pedir para uma patrulha vasculhar o bosque atrás da sua residência para ver se encontramos alguns vestígios.

– Faça isso, Jason. Obrigado. Disse Amelia.

– Tenham um bom dia. Qualquer novidade, entro em contato com vocês.

E lá se foi o Inspetor. A vida na casa das flores brancas voltou ao ritmo normal.

 

Parte II – Periciando e analisando novos fatos

Ao voltar a delegacia, o Inspetor Stirleman destacou um grupo de homens para varrer o bosque atrás de algum indício, alguma pista do que aconteceu para então descobrir por que aconteceu.

Após horas, o grupo retornou a delegacia para relatar o que encontraram, se é que encontraram algo.

O tenente então relatou como foram as buscas.

– Delimitamos um perímetro de busca de 1 acre e enfileirados caminhamos a passos lentos para ver se encontrávamos pegadas, cápsulas, galhos quebrados ou algum indício de que alguém esteve por lá recentemente.

– E…

– Nada, absolutamente nada.

– Impossível. Aumentem o raio de busca tem que haver pelo menos uma pegada. Uma arma não dispara sem que alguém aperte o gatilho. Não faltam testemunhas que ouviram o que aconteceu.

– Nós aumentamos o raio mas, nada.

– Tem que haver algo que escapou de vocês. Não faz sentido. Duas famílias que residem distantes uma da outra escutaram os disparos.

O Inspetor Stirleman tinha uma carta na manga que usaria para encontrar evidências e confrontar sua equipe. Big Man acabaria com esse impasse.

Stirleman foi até a sua residência, colocou a coleira no seu cachorro, Big Man, da raça Scent hound, sabujo, que reconhecidamente é ótimo farejador. Somado a sua experiência de mais de 30 anos iria provar aos jovens como as coisas são resolvidas na polícia.

Assim que chegou no bosque com o seu melhor amigo, esfregou um pouco de pólvora nos dedos e fez o Big Man cheirar, era a referência para o cachorro encontrar resíduo de pólvora no bosque. Afinal, se houve tidos, houve pólvora e o cachorro certamente encontraria vestígios.

Cerca de meia hora rondando o bosque mas, nada, absolutamente nada.

– Estranho, muito estranho disse o Inspetor para si mesmo.

Então ele sacou sua pistola .40 e fez dois disparos para o alto. Após um minuto, se abaixou e apanhou as duas cápsulas disparadas e as colocou no bolso. Então, fez o cachorro procurar pelos projéteis disparados.

Big Man começou a farejar e em pouco tempo parou próximo a uma árvore e latiu. Seu dono já conhecia o gesto e foi atrás de Big Man. Ao se aproximar, o cachorro com a pata arranhava o chão. Stirleman agradou o cachorro, deu-lhe um biscoito. Sacando de uma faca, cavocou o chão e apanhou o projétil enterrado e o guardou no bolso.

Deu nova ordem para o cachorro encontrar a outra bala. Dessa vez porém o tempo passou mas, o cachorro nada encontrou.

– Deve ter entrado em alguma árvore ou algo. Não será encontrado mas, aqui já fiz o que tinha que fazer.

Não satisfeito de todo, Stirleman foi até a beira do rio Windrush e lá, disparou mais dois tiros para o alto.

Dessa vez, o cachorro não encontrou nenhum projétil mas, ele recolheu as cápsulas.

– Excelente, excelente disse Stirleman. Aqui, em campo aberto, a pólvora se dissipa mais rápido Estou no caminho certo.

Retornando a delegacia, colocou sua pistola, as duas cápsulas disparadas no bosque e o projétil encontrado, em um envelope. Chamou seu assistente ordenando que enviasse para a perícia para certificar que o projétil encontrado fora disparado pela sua pistola.

Até que o relatório viesse, havia pouco a se fazer. Mal sabia ele que haveria outras ocorrências.

No dia seguinte, sexta-feira, Jeremy ligou para Jason pedindo que fosse até sua residência o mais urgente possível.

Chegando lá, Amelia pediu ao Inspetor que fosse até o fundo da residência onde Jeremy estava.

Lá estava Jeremy ao lado de um porco aparentemente morto.

– Amelia vai fazer bacon hoje e você vai me dar um pouco de banha? Perguntou O Inspetor.

– Mataram meu porco! Disse Jeremy.

– Como assim, Raposas?

– Não. Tiros.

– Tiros? Quem mataria um porco com tiro para não o roubar? Tiro faz barulho.

– Pois é Inspetor eu me pergunto isso também. Outro tiro foi disparado, pegou na parede do fundo. Veja a marca ali próximo a janela e aqui está o projétil deformado.

– Minha nossa, disse o inspetor. Isso parece um atentado, um aviso ou algo do tipo. Esse tiro quase entrou janela adentro, poderia ter matado você ou a Amelia. Vou chamar a perícia. Preciso do projétil que está dentro desse pobre animal.

-Por Deus Jeremy, enquanto não soubermos de fato o que está acontecendo, pegue a Amelia e saia dessa casa. Vá para outro lugar. Aqui não está seguro.

– Amelia nunca vai sair daqui. A casa e as flores é a vida dela.

– Eu falo com ela. Deixe comigo.

– Não é preciso a perícia. Com o meu porco morto, vou abrí-lo para Amelia aproveitar tudo o que puder.

Jeremy abriu o porco e o projétil foi encontrado. Guardei em uma sacola plástica. Pedi a Jeremy também o pedaço da pele do porco ao redor de onde o projétil entrou. Eu pediria para a perícia estimar a distância entre o atirador e o infeliz, presunto.

Antes de sair Stirleman foi conversar com Amelia para tentar convencê-la a deixa a casa por algum tempo até que se descubra o que está acontecendo. Tal como Jeremy previra, Amelia foi irredutível. Disse que isso é coisa de algum maluco e que logo Stirleman descobriria quem foi e o prenderia.

De posse desse material, Stirleman retornou a delegacia tratando de enviar de pronto, o material para a perícia.

 

Parte III – Uma tragédia anunciada e o caso encerrado

O resultado da perícia de sua arma e do porco ficou pronto somente na segunda-feira. De fato, o projétil encontrado pelo cão era compatível com a arma do Inspetor e as balas colhidas na parede e no corpo do porco saíram de uma mesma arma, calibre .380, a distância dos disparos foi maior do que 100m. Estimada em 150m.

– Mais de 100m, interessante. Isso se deu de dentro do bosque. Vou até lá.

Lá chegando e posicionando-se dentro do bosque, olhando para a residência dos Mc Bolton, Stirleman sacou sua pistola .40, retirou o pente de balas e colocou uma mira a laser.

Apontando em direção a residência dos Bolton, fez a mira em um ponto próximo onde o tiro atingiu a parede, muito próximo da janela. Movendo a pistola alguns milímetros para baixo, a mira apontou para o chiqueiro.

– Uau, disse ele. Acertar a parede ou chiqueiro foi uma questão de milímetros. Quem atirou, se não tivesse uma mira dessas poderia em dois tiros consecutivos acertar uma pessoa dentro de casa ou um porco. Quase acertou os dois.

– Agora vou a casa dos Stanton.

Lá chegando, Stirleman foi recebido por Frank e Eliza Stanton que prontamente ofereceu chá e algumas bolachas. Em meio a isso, o Inspetor resolveu fazer algumas perguntas ao casal.

– Frank, quem de vocês ouviu os disparos na quarta-feira?

– Nos dois, eu e Eliza ouvimos os 3 disparos.

– Três? Jeremy me falou que ouviu 5 disparos.

– Seguramente ouvimos apenas 3.

– Vocês acordaram com os disparos?

– Não, estávamos acordados, conversando com uma de nossas filhas que está na Austrália. É um bom horário para ela e nem tão ruim para nós.

– Lembra o horário em que ouviu os disparos?

– Cerca de 1:20 da manhã, afirmou Frank.

– E na quinta-feira a tarte, vocês ouviram tiros durante o dia?

– Sim, disse Eliza 2 tiros que vieram da direção do rio.

– Somente 2?

– Isso. Somente 2.

– E na sexta-feira? Ouviram algo?

– Nada, absolutamente nada.

Frank aproveitou para contar uma novidade ao Inspetor.

– Jason, nós decidimos vender a casa e nos mudar para a Austrália. Há algum tempo, um investidor me fez uma oferta pela casa mas o valor não me agradou. Agora, que está ficando perigoso aqui, fizeram uma excelente oferta e decidimos vendê-la.

– Lamento perder os amigos, disse Stirleman mas, parabenizo pela decisão. Bem, obrigado pelo delicioso chá. Preciso voltar para a Delegacia.

Despediram-se e Stirleman decidiu retornar para a delegacia mas antes resolveu dar uma nova parada na casa dos Bolton.

Assim que chegou, procurou por Jeremy.

– Jeremy, tenho que voltar para a delegacia mas, tenho uma pergunta para te fazer.

– Diga Jason.

– Anteontem pela manhã você ouviu tiros?

– Sim ouvi, algo abafado mas, ouvi 2 tiros.

– Sabe me dizer o calibre da arma que atirou? Você como armeiro sabe distinguir um som de outro, certo?

– Como te disse Jason, pareceu um pouco abafado mas meu palpite é que foi de uma pistola .380, o mesmo calibre utilizado para matar o meu porco.

– Boa conclusão, Jeremy, boa conclusão.

– Bom, agora preciso ir.

Stirleman voltou para a delegacia com um ar preocupado. Muito preocupado.

– Preciso tomar uma atitude urgente ou algo mais grave vai acontecer.

Na quarta-feira pela manhã, exatamente uma semana após os primeiros tiros, Stirleman é chamado pelo rádio para ir até a casa dos Mc Bolton.

Lá chegando já encontra uma viatura e uma ambulância.

– Acho que aconteceu o que eu temia.

Na parte de trás da casa, perto da porta da cozinha, jazia em uma poça de sangue, Amelia. O Inspetor olhou para um paramédico que acenou negativamente para ele, indicando que nada podia ser feito por ela.

Mais ao lado estava Jeremy, em choque e ainda segurando sua pistola 9mm. Jason se aproximou de Jeremy.

– Jeremy, me dê essa pistola e sente-se nessa cadeira.

– Mataram ela Jason, Acabaram com a minha vida. Por quê? Por quê?

Jeremy entregou a pistola para Jason que a colocou em uma sacola plástica e sentou-se na cadeira de ferro do jardim. Em seguida o Inspetor chamou um investigador. Pediu que algemasse Jeremy ao banco. Um braço em cada braço da cadeira.

Jeremy se indignou.

– Jason. O que você está fazendo. Por Deus. Você não vê o que está acontecendo?

Caiu em prantos convulsivos.

– Jeremy, você está preso por matar Amelia.

– O que, você está louco Jason. Eu amo Amelia mais que tudo nesse mundo.

– Eu acredito em você mas, há coisas que nem o amor supera.

Vamos te levar preso e vamos cuidar da Amelia. Que descanse em paz.

Durante o dia foi uma consternação geral na pequena e pacata Bulford. Muitos criticando o Inspetor pela prisão de Jeremy que ainda estava desolado e deprimido na carceragem.

O Inspetor manteve a prisão e decidiu que só completaria o inquérito após o funeral de Amelia que ocorreu na sexta-feira.

No sábado dia normalmente, mais calmo na cidade, com a indignação das pessoas com a morte de Amelia e a prisão de Jeremy, O inspetor Stirleman chamou o Advogado e o Promotor da Coroa para um interrogatório.

Todos a postos na sala de interrogatórios, o Advogado apresentou o pedido de soltura “Habeas Corpus” mas, o Inspetor alegou que teria até 20 dais para apresentar o caso ao juiz a ser designado para acompanhar o inquérito.

Isso posto, Stirleman perguntou a Jeremy diretamente.

– Por que você matou Amelia?

– Você está louco Jason. Minha casa foi atacada várias vezes até que conseguiram matá-la.

– E porque alguém desejaria matar uma pessoa pacata como Amelia? Para haver um assassinato deve haver motivação e um instrumento.

– Mas eu, não tinha motivação alguma.

– É aqui que eu declaro para os que aqui estão presentes os fatos como se deram, disse Stirleman.

Na quarta-feira passada Jeremy declarou ter ouvido três tiros, também ouvidos pelos Bolton, Jeremy disse que dois outros tiros foram dados mas, não há prova disso e, eu afirmo que não houve outros tiros, caso contrário, meu cão, que esteve no bosque no dia seguinte teria encontrado alguma pista. Só encontrou registros dos meus dois tiros. Além disso, esses três tiros foram dados a partir do jardim de Jeremy. Os Bolton somente escutaram tiros de fora do bosque, como esses três e outros dois que dei próximo ao rio. Jeremy, devido a barreira do bosque somente escutou os tiros de dentro do bosque, abafados, como ele mesmo disse. Jeremy, ao inventar dois tiros a mais, deveria comentar que dois deles foram abafados, de dentro do bosque ou, os Bolton escutariam 5 tiros.

O tiro que quase acertou a sua janela e acertou em cheio o seu porco, foram dados a partir do bosque. Naturalmente não escutados pelos Bolton. Como Armeiro, Jeremy tem ótima mira, acertou um tiro próximo a janela e outro no seu porco. Primeiro no porco, realizando assim um, digamos “assassinato” que mostraria que quem estava atacando a casa tinha intenções piores do que dar tiros a esmo. O outro tiro próximo a janela apenas um erro de mira. Sem mira a laser, acertar a janela era uma possibilidade muito grande.

– Mas esses tiros foram dados por uma pistola .380 e a minha pistola é 9mm, disse Jeremy, mais recomposto.

– A mesma pistola que disparou contra Amelia, disse o Inspetor.

– Viu, há um assassino a solta por aí mas, você me mantém aqui, preso.

– Fique calmo. Eu não terminei minha exposição dos fatos.

Os Bolton venderam a casa a um investidor. A princípio pensei que ele poderia estar criando uma situação de instabilidade na cidade para forçar a venda de propriedades. Fazia sentido.

Assim que soube que ele havia comprado a residência dos Bolton, eu o chamei aqui na delegacia para prestar esclarecimentos.

– O que ele disse perguntou o Promotor da cora.

– Ele é um investidor em imóveis de temporada, no interior da Inglaterra, há anos, compra alguns imóveis no interior para oferecer as pessoas das grandes cidades e estrangeiros a imersão na cultura local. Compra dois ou três imóveis na cidade, o suficiente para não as descaracterizar ou alterar a rotina da cidade. Comprou a casa dos Bolton e fez uma boa oferta pela casa das flores brancas mas foi rechaçada pela Amelia que nunca sairia da casa de seus antepassados somente morta, como infelizmente aconteceu.

– Mas o que isso tem a ver com a morte de Amelia, retrucou o Advogado.

– Há tempos, Jeremy vem dando remédios para Amelia dormir mais profundamente, assim, ela parou de reclamar por Jeremy passar noites adentro assistindo jogos de futebol e, apostando. Tenho registro das suas apostas e, das vultosas perdas.

Endividado, uma das soluções seria a venda da casa mas, nunca Amelia venderia. A solução? Assassiná-la.

– Mas a arma que a matou não era de propriedade de Jeremy, bradou o Advogado.

– Como eu acabei de dizer, os tiros a esmo e no porco, foram dados por Jeremy e, na Amelia também.

– Onde está a arma, Jeremy? Perguntou Stirleman.

– Não há nenhuma arma, Jason.

Stirleman chamou o tenente que trouxe um pacote. Ele abriu e dentro estava uma pistola .380.

– Essa arma, senhores matou o porco, e Amelia. Foi devidamente periciada. Aonde eu a encontrei? Na gaveta da cozinha na casa de Jeremy em um fundo falso.

Um bom armeiro nunca tem uma única arma. No dia em que assassinou Amelia, utilizou as duas armas, uma em cada mão. A .380 contra Amelia e a 9m para dar tiros em direção ao bosque. Um disfarce grosseiro.

No entanto, na pressa de esconder a arma de volta na gaveta, deixou rastros que meu tenente percebeu.

– Jeremy. Confesse e trataremos de fazer um bom acordo na justiça.

– Isso é um embuste, uma provocação, disse o Advogado.

– Chega, disse Jeremy. Jason aceito sua oferta. Estou endividado e preso. Isso não me preocupa. Ter perdido Amelia é minha maior desgraça.

– Senhores, o interrogatório está encerrado. O caso está encerrado.

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